terça-feira, 12 de outubro de 2010

TEXTO 6 LEITURA E BIBLIOTECA

leitura
AS PRIMEIRAS LETRAS
NOVA ESCOLA EDUCAÇÃO INFANTIL
. PRÉ-ESCOLA 17
Além de aproximar as
crianças do mundo letrado,
a leitura alimenta o
imaginário e incorpora essa
experiência à brincadeira,
ao desenho e às histórias
que todos os pequenos gostam
de contar. Não é raro ver
bebês manuseando livros, apreciando
as ilustrações e até virando as
páginas, como se estivessem realizando
uma leitura silenciosa. Isso é mais
uma prova de que é possível formar
comportamentos leitores desde muito
cedo. Para os menores de 3 anos,
é fundamental escolher atentamente
as obras por causa das imagens: elas
precisam ser grandes, claras e atraentes,
pois estimulam a participação.
“Ler para as crianças é igualmente importante
para elas se familiarizarem
com o hábito da escuta. Os temas, é
óbvio, devem estar de acordo com os
interesses mais genuínos da idade, como
afazeres cotidianos, bichos etc.”,
afirma Ana Lúcia Bresciane, formadora
do Instituto Avisa Lá.
A psicopedagoga e especialista em
educação especial Daniela Alonso explica
que, assim como os deficientes
físicos precisam de rampas para se locomover,
os deficientes auditivos e
...requer atividades diárias
em que a garotada tenha
a oportunidade de ler,
trocar idéias, comentar
notícias e muito mais
MARIA FERNANDA ZIEGLER
dever de todo professor, desde a
Educação Infantil, incentivar o
desenvolvimento de comportamentos
leitores antes mesmo de a turma
aprender formalmente a ler. Comentar
ou recomendar algum texto, compartilhar
a leitura de um livro, confrontar
idéias e opiniões sobre notícias
e artigos com outras pessoas –
tudo isso ajuda a estabelecer gostos,
reconhecer finalidades dos materiais
escritos, identificar-se com o autor ou
distanciar-se dele, assumindo uma posição
crítica. No mundo todo, crianças
que vivem em ambientes alfabetizadores
(ou seja, aqueles em que as
pessoas fazem uso regular do ato de
ler e escrever) têm a oportunidade de
construir esse conhecimento naturalmente
ao imitar as ações dos parentes
e amigos. Já os que não vivem cercados
de “letras” precisam (e muito)
da ajuda da escola. O fato é que essa
ainda não é a realidade do nosso
país. Os números do Censo Escolar
2005, feito pelo Ministério da Educação,
revelam que apenas 19,4% dos
colégios públicos do Ensino Fundamental
têm biblioteca: só 27 815, de
um total de 143 631 unidades.
Daí a importância de iniciar esse
trabalho ainda na Educação Infantil.
É
Fazer de
cada criança
um leitor...
mentais também precisam de ferramentas
para participar de atividades
de leitura. “Não podemos deixar que
essa criança só participe da aula. Se
ela é surda, trabalhe com livros cheios
de figuras. Se ela tem uma deficiência
mental e não consegue se concentrar,
dê um exemplar para ela acompanhar
a tarefa”, diz Daniela.
Ao alcance de todos
Para formar futuros leitores, é fundamental
que a leitura faça parte da rotina
diária. O ideal é que não só a escola
disponha uma biblioteca mas também
todas as salas tenham espaço reservado
para livros, revistas e outros
materiais impressos – onde todos possam
manusear o material livremente
e comecem a entender o sentido que
o mundo letrado tem para todas as
FOTOS: FERNANDA SÁ; AGRADECIMENTOS: GREEN E AVANTI TAPETES
pessoas já alfabetizadas. Por isso, os
especialistas dizem que não cabe exigir
atividades complementares depois
da leitura. Ao contrário. Nessa fase,
é melhor não escolarizar a tarefa e esperar
algum resultado da parte das
crianças. Portanto, nada de questionários
sobre a história. O melhor é bater
papo e trocar impressões sem compromisso.
Ao estabelecer como rotina
que cada texto lido seja seguido de
perguntas preestabelecidas, você pode
criar a sensação de que o ato de ler
está necessariamente vinculado a essas
respostas (ou à produção de desenhos),
o que não é verdade.
“O que fazer depois da roda de leitura
deve estar a serviço da construção
desse comportamento. Conversar
sobre as impressões de cada um
abre espaço para que as crianças digam
do que mais gostaram ou lembrem
de algum episódio já vivido e,
assim, se apropriem do uso social do
ler”, diz Léiva Sousa, coordenadora
de Educação Infantil da Secretaria
Municipal de Educação de Itupiranga,
no norte do Pará, que transformou
as aulas de leitura do município.
Antes mesmo de o projeto ser instituído,
em 2005, as atividades de leitura
eram parte da rotina das escolas.
O problema é que elas não serviam
para formar leitores. As propostas
eram soltas, com muita produção
de desenhos sobre temas livres e datas
comemorativas. Havia também
uma mistura entre o ato de ler e o de
contar histórias. A solução foi mudar
as práticas em sala para aproxi
leitura
AS PRIMEIRAS LETRAS
Em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, os livros usados nas atividades de
leitura tinham pouca qualidade literária. Após um projeto de formação
de professores e coordenadores, em 2004, tudo mudou. Hoje as rodas são
usadas para divertir, encantar, promover o contato com textos melhores e dar
asas aos sonhos e às fantasias das crianças. A coordenadora de Educação
Infantil da Secretaria Municipal de Educação, Terezinha Osmari, conta que,
além de ler por prazer, muitos professores passaram a trabalhar com textos
informativos e científicos, ligados a temas de interesse das crianças. E também
a mesclar grupos de diferentes idades e envolver a comunidade. “Os que já
sabem ler fazem isso para os que ainda não sabem. Coordenadores
pedagógicos e diretores lêem na pré-escola. Pais passam a levar livros para ler
para os filhos em casa”, diz Terezinha. No Grupo Escolar Pedro Aurélio Bicari,
a professora Neiva Hauzz promove leituras diárias na classe de 4 anos. “Se as
crianças comentam que o dia está frio, pego o jornal e mostro a previsão do
tempo para todos compreenderem o sentido dessa leitura.”
Uma cidade de leitores
NOVA ESCOLA EDUCAÇÃO INFANTIL
. PRÉ-ESCOLA 19
mar as crianças dos diferentes gêneros
literários e mostrar como há importantes
distinções entre a linguagem
escrita e a falada. Hoje, as professoras
da rede explicam claramente
o motivo pelo qual aquele texto foi
escolhido e, durante a leitura, respeitam
a versão original, não substituindo
palavras nem simplificando a narrativa
(leia nos quadros abaixo e na
página ao lado outras experiências
bem-sucedidas em pré-escolas de Cajamar,
na Grande São Paulo, e São
Miguel do Oeste, em Santa Catarina)
Ao fazer leituras em voz alta, o
professor obtém vários benefícios,
que são o que os especialistas chamam
de desenvolver comportamentos
leitores:
.
com as práticas de leitura,
permitir a interação da garotada
e se familiarizem com a linguagem
escrita,
fazer com que todos se aproximem
e outros materiais escritos,
aumentar a curiosidade pelos livros
linguagem escrita e a oral,
mostrar as diferenças entre a
ampliar as referências literárias,
é sempre fonte de prazer
e entretenimento.
E então, vamos começar
a promover cada vez
mais atividades de leitura para
a turma?
e mostrar que a leitura
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Leia uma lista com sugestões de livros feita por Silvana
Augusto para trabalhar com classes de creche
e pré-escola (mais material para você ler por
prazer e se formar) em
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CONTATOS
EMEI Emerson Cruz Machado,
Machado, 251, 07760-000, Cajamar, SP, tel.
4447-3037
Av. Antonio Cândido
Grupo Escolar Municipal Aurélio Pedro Vicari,
R. Terezinha Basso, 183, 89900-000, São Miguel
do Oeste, SC, tel. (49) 3622-6164
Terezinha Osmari,
osmaritere@bol.com.br
BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever na Escola — O Real, o Possível e
o Necessário,
tel. 0800-703-3444, 32 reais
Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed,
A professora Jaqueline Thomaz, da EMEI Emerson Cruz
Machado, em Cajamar, na Grande São Paulo, adora
contar histórias para suas turmas. Ela mostra as
ilustrações do livro e lê todos os dias antes do
lanche para as crianças de 3 e 4 anos. Sempre
que pode, se fantasia, usa fantoches, monta um
verdadeiro teatro – tudo para garantir um
interesse maior do grupo, já que se manter
concentrado não é exatamente o forte nessa faixa
etária. Por isso, a atividade dura de cinco a 15
minutos, no máximo. À medida que o ano vai
avançando, a garotada se familiariza com esse
momento e passa a esperar por ele. “Tem mãe que conta
que o filho junta os bonecos, faz uma roda e começa a contar
uma história com o livro na mão, imitando o que ocorre na sala. Nessas horas,
eu vejo que o trabalho está surtindo efeito”, comemora Jaqueline.
Além de escolher bons títulos, privilegiando sempre a qualidade literária,
a professora acredita que a chave para obter sucesso em atividades de leitura
com classes de Educação Infantil é a entonação. Ela conta que, quando está
lendo, altera a voz a cada mudança de personagem. E ensina: as obras
precisam ser manuseadas livremente pelas crianças. “No início, muitos nem
sequer conhecem livros e mordem, amassam, empilham. Mas, se a escola não
der essa oportunidade aos pequenos, quem vai dar?”, pergunta. Ao ampliar
a curiosidade da turma pelo material escrito, a professora permite que todos
comecem a entender o sentido das práticas de leitura, se aproximem do
mundo das letras e ganhem familiaridade com ele.
Jaqueline conta
histórias para a turma
(ao lado) e as crianças
com os livros: escolher
títulos de qualidade
literária aumenta
o interesse
O segredo está na entonação

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